Como a Universidade de Brasília está se preparando para a COP30?
Faz parte do nosso programa de gestão a discussão sobre justiça socioambiental e a contribuição em rede nacional e internacional para mitigação dos efeitos da crise climática. Começamos convidando os pesquisadores e estudantes da UnB que se interessassem pelo tema. Tivemos uma adesão enorme, que surpreendeu pela relevância de todas as áreas do conhecimento. Desde então, estamos organizando uma programação interna da universidade, que conta com palestras, atividades com os estudantes e uma programação cultural muito intensa.
Por exemplo, contamos com a participação do Comitê de Cultura, com várias oficinas. Ontem (terça-feira), o Seu Estrelo e a Orquestra Alada fizeram uma linda apresentação sobre os mitos, a cultura do Cerrado e a nossa população local. Estamos mobilizando a comunidade acadêmica para engajar nos eventos. Também temos o projeto Planetário da UnB Planaltina, que está no campus Darcy Ribeiro, no prédio da reitoria. Organizamos uma programação essa semana que coincide com a programação da pré-COP do governo federal, com o qual fizemos uma parceria, por meio da Secretaria Nacional de Participação Social. Quinta (hoje) e sexta vão acontecer na UnB o Fórum Intersetorial dos Conselhos e o Fórum Social da Amazônia. É uma programação bem recheada para esta semana, mas que também terá continuidade de outubro a dezembro.
Como a academia vai participar do processo dentro da COP30 em Belém?
Estamos preparando uma carta de Brasília, a partir das atividades que estão sendo desenvolvidas na universidade, mas também apontando todos os desafios que nós, como pesquisadores, reconhecemos. Além de trazer esse aspecto da arte e cultura como uma voz política na formação de cidadãos que sejam críticos e possam atuar e interagir com as pautas do meio ambiente por meio dessas diferentes linguagens. A UnB também deve entregar ao presidente Lula a carta da Rede de Estudos Ambientais de Países de Língua Portuguesa (Realp). É uma rede que participamos e tivemos um encontro recente em Évora, Portugal, em que fomos representados e incumbidos pelo grupo de realizar essa carta. Nos fóruns que estão sendo realizados pela presidência devem sair documentos que os membros dos conselhos devem encaminhar à COP30.
É importante que a universidade esteja presente para levar a pauta de preservação do Cerrado?
Alguns dos nossos pesquisadores estarão presentes no evento, muitos deles participam dessas redes internacionais que têm sido propositivas nas ações de mitigação da crise climática e preservação do meio ambiente. Então estaremos representados na COP30. A UnB sedia o comitê do Instituto Nacional do Cerrado; ao longo do ano, temos compreendido que os biomas devem ter a própria projeção na discussão climática. Há um grupo grande trabalhando, mais de 24 instituições, para constituição efetiva desse órgão de pesquisa junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Desde então, fizemos várias agendas políticas junto ao governo e parlamentares para viabilizar essa criação. E sabemos que a Amazônia não existe sem o Cerrado, que é berço das águas, fonte de energia renovável e possui muitas áreas em contexto de preservação ambiental. Ele é importante para a manutenção do bioma amazônico. A defesa do Cerrado se faz imprescindível na discussão da COP.
Como estão os preparativos da Semana Universitária?
Nosso próximo grande evento é a Semana Universitária. Estamos com mais de mil propostas de atividades oriundas das unidades acadêmicas, com todas as áreas participando. Vamos ter a abertura em 3 de novembro, depois as atividades direcionadas aos campi. Essa é uma novidade deste ano. Teremos na terça, quarta e quinta-feira atividades concentradas nos campi da Universidade — Ceilândia, Gama e Planaltina, nessa ordem. Depois fechamos a Semana Universitária com a corrida, que é um evento tradicional e que também alcançou o número máximo de inscrições. Estamos estudando reabrir as inscrições, porque houve muito interesse.
Esta semana ocorreu o Nobel Experience Day, uma parceria da UnB com a Embaixada da Suécia. Qual a importância desse evento?
É de grande relevância porque, em geral, a Embaixada da Suécia traz um dos laureados pelo Prêmio Nobel e esse laureado faz uma conferência que demonstra, dentro da sua área de conhecimento, a relevância da ciência enquanto mecanismo de inovação para o desenvolvimento tecnológico ou social em nível mundial. São grandes descobertas, mas, sobretudo, são pesquisadores que contam para os nossos estudantes um pouco da sua história e trajetória de pesquisa. Isso é um grande fator de impacto, que agrega valor à vida universitária e à vida do pesquisador.
Neste ano, excepcionalmente, a embaixada não trouxe um laureado, mas tivemos a participação de um dos autogestores da Ericsson e de egressas de programas de intercâmbio entre Brasil e Suécia. Assim, abrimos novas possibilidades de diálogo entre os dois países, nessa mobilidade estudantil e, em ambos os casos, com pessoas que hoje se projetaram nas suas respectivas áreas do conhecimento e que estão também desenvolvendo inovação e abrindo oportunidades para outros alunos.
Como está o funcionamento do Laboratório de Inteligência Artificial da UnB?
É uma área de vanguarda. A Universidade de Brasília tem atuado, desde o início do ano, com a constituição de um grupo de trabalho coordenado pelo vice-reitor, o professor Márcio, e que está com diferentes frentes. Uma delas foi a inauguração do Laboratório Multiusuário de Inteligência Artificial. Recebemos a doação de dois supercomputadores pela Intel. Assim, melhoramos tanto do ponto de vista de infraestrutura quanto juntando com os computadores que haviam sido adquiridos pelo Parque Científico e Tecnológico.
Com a nossa infraestrutura já instalada, estamos com uma potência muito grande para o desenvolvimento de pesquisas utilizando inteligência artificial. Abrimos um edital no dia do lançamento, 17 de setembro, para a proposição de pesquisas de uso compartilhado. O modelo que adotamos de início foi a disponibilização dessa infraestrutura por 60 dias para que os pesquisadores rodem os dados de suas pesquisas, permitindo atender ao maior número possível de projetos. É um modelo que ainda estamos estudando, mas também atuamos em outras frentes na área de inteligência artificial.
Tem algum outro projeto previsto na área de inteligência artificial?
O principal deles é a criação do curso de graduação em Inteligência Artificial, que está bem avançado. Devemos levar a discussão ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão ainda este ano, quem sabe para abrir alguma turma no primeiro semestre de 2026. O laboratório não é algo restrito à UnB, e o curso seria mais uma forma de nos aproximarmos da sociedade e de trazê-la para dentro da academia.
Além disso, é uma oportunidade de compartilharmos a infraestrutura com outras universidades, por meio das redes de pesquisa nacionais e internacionais das quais participamos, e também com órgãos de governo. Sabemos do esforço que vem sendo feito pelo governo federal na linha da nossa soberania digital, e a Universidade de Brasília também está preparando o seu projeto para o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. São, portanto, pelo menos três frentes que estão bem avançadas e com as quais devemos obter bons resultados em breve.
Qual o papel da UnB em ajudar na construção de políticas públicas que combatam o racismo?
Assinamos, na semana passada, um acordo de cooperação técnica com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação. Essa parceria representa uma importante interlocução da universidade com o ensino médio e fundamental. O propósito da pesquisa, conduzida por um grupo da Faculdade de Educação, é consolidar dados sobre a implementação da lei de educação étnico-racial nas escolas de educação básica em todo o país.
Trata-se de um projeto de abrangência nacional, que busca reunir informações e avaliar essa política pública num momento em que é essencial avançar nas discussões sobre o enfrentamento das práticas racistas e a promoção de uma educação antirracista — elementos fundamentais para a construção de uma cultura de equidade na sociedade. Quando conversamos sobre o tema, a sensação é de que a lei ainda não está sendo aplicada de forma adequada, mas o estudo permitirá também dispor de dados quantitativos que confirmem essa percepção.