O que o aumento na média de temperatura do DF significa na prática para os brasilienses? Como consequência temos primeiro o aumento das ondas de calor que trazem graves prejuízos para a saúde humana, principalmente em crianças e idosos. Isso pode aumentar a mortalidade da população, o aumento de doenças cardiovasculares e respiratórias. O segundo é o aumento da evaporação da água. Evapora mais água e, com isso, há uma redução da disponibilidade de água nos reservatórios. Isso aponta um risco elevado de o DF voltar a enfrentar uma crise hídrica, como aconteceu em 2017 para 2018. Aquilo foi uma consequência desse aquecimento. A intensificação de chuvas torrenciais, de ventos muito fortes traz prejuízos como enxurradas e inundações.
Como a degradação do Cerrado contribui e agrava os eventos climáticos extremos? O Cerrado é importantíssimo para a recarga dos aquíferos e das bacias de captação de água no DF. E o Cerrado faz com que haja uma maior infiltração de água para abastecer essas bacias hidrográficas. A vegetação tem esse papel de melhorar a infiltração da água, não deixar que ela escoe superficialmente. Além disso, a preservação da biodiversidade é essencial para manter o equilíbrio do bioma e garantir o regime de chuvas. O risco de incêndios florestais também é agravado pelo aquecimento global e pelo desmatamento do Cerrado. O DF está exposto a um aumento de incêndios florestais devido à alta das temperaturas, à redução do regime de chuvas e à ocorrência de eventos climáticos extremos.
Muitos ainda veem a questão da mudança climática como algo distante. Quais são os sinais de que essas mudanças são perceptíveis na rotina da população? É perceptível que a população brasileira está plenamente convencida de que a mudança climática é um fenômeno que deve ser levado muito a sério e se preocupa com isso, principalmente com o aumento da frequência de eventos extremos. Vimos essa semana um tornado devastador no interior do Paraná. Não é apenas a ciência que está nos alertando para a gravidade desse problema, o nosso dia a dia tem confirmado isso. Não se trata mais de definir ações para evitar cenários catastróficos no final deste século. Trata-se de um problema que chegou e que diz respeito ao presente.
O que pode ser feito pela população e pelo poder público para reduzir ou evitar essas consequências? Nas ações locais, em cada comunidade, é sempre importante que haja uma mobilização para melhorar o sistema de gestão de resíduos sólidos, como a coleta de lixo, para evitar que esses resíduos sejam dispensados no ambiente de forma irregular, porque isso vai causar um entupimento das drenagens e vai levar a inundações cada vez mais severas. Uma iniciativa importante que temos que reconhecer foi o programa de Drenar DF, implantado pelo GDF, feito para aumentar a capacidade de escoamento da água da chuva. No caso das ondas de calor, é muito importante a melhora do sombreamento. Temos, por exemplo, o Plano Piloto com uma cobertura de árvores importante e extensa, que reduz a vulnerabilidade da população que vive nessa região em relação às ondas de calor. Por outro lado, temos uma desigualdade ambiental no DF muito grande, pois nas regiões administrativas ao redor do Plano Piloto vemos uma cobertura de árvores muito baixa. A cobertura de árvores nessas regiões, que chamamos de periferias urbanas, é muito precária e isso aumenta o risco de ondas de calor mais intensas nessas áreas desprovidas de arborização.