O sistema do rio Amazonas, o maior sistema fluvial do planeta, tem enfrentado um fenômeno ambiental que ameaça a vida das comunidades ribeirinhas no Arquipélago do Bailique, no Amapá. A salinização da água doce e potável do rio ocorre à medida que o avanço do oceano e as mudanças no sistema hidrológico do corpo d'água — cuja vazão é a maior do mundo, com cerca de 205.000 m³/s de média histórica — se intensificam. A topografia da foz do estuário permite que a água marinha invada o rio através das marés, porque o Amazonas é macrotidal — sua água doce se encontra e se mistura com a água do mar. De acordo com um estudo conduzido por pesquisadores internacionais e brasileiros, em colaboração com as universidades de Toulouse, na França, e a Universidade de Brasília (UnB), os níveis máximos anuais da água no estuário do Amazonas são modelados por múltiplos fatores, que influenciam o nível de vazão do rio e sua penetração pelas correntes oceânicas. O sistema costeiro sofre pressões da erosão causada por processos geomorfológicos que aumentam a vulnerabilidade da zona, com sedimentos que impedem sua vazão normal e a formação de barreiras naturais à introdução de água salgada. Na região do Bailique, comunidade ribeirinha amapaense situada no estuário, tem sido documentado um recuo da zona de água doce e um avanço da água salobra ou salgada rio acima, que penetra por ilhas e canais e contamina a água potável usada pelas famílias, além de impedir o tráfego da navegação e prejudicar as palmeiras de açaí nativas da região — com a erosão das margens. Leia também: A Amazônia nunca mais será a mesma e o motivo está nos oceanos, alertam especialistas | Revista Fórum Em 2025, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Macapá, pesquisadores do Observatório Popular do Mar (Omara), vinculado ao Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa) e à Universidade do Estado do Amapá (Ueap), apresentaram um estudo que observou o avanço do mar sobre a região, algo que costumava ocorrer em episódios isolados e passou a ser comum praticamente o ano inteiro. A salinização compromete os solos, a vegetação da mata ciliar e a cultura do açaí, com a absorção do sal do lençol freático pelas palmeiras. Parte do aumento da frequência da intrusão se deve à alternância entre secas mais longas e cheias mais intensas, que alteram o regime hídrico e favorecem as janelas para o avanço do mar em Bailique. A instabilidade dos fenômenos La Niña e El Niño, que regulam as alterações nos oceanos Pacífico e Atlântico, também contribui com os períodos mais longos de estiagem. A solução mais imediata do governo do estado foi a instalação, em 2024, de uma máquina de dessalinização no distrito do Arquipélago do Bailique. O equipamento é capaz de produzir até três mil litros de água limpa por dia e funciona durante dez horas diárias, abastecendo cerca de 50 famílias em 22 localidades, de acordo com a Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa). Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar
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