Carteiro de sessenta e cinco anos foi aprovado no vestibular da UNB, no vestibular sessenta mais.
Essa aprovação naturalmente emocionou toda a família moradora de Ceilândia e provou que idade não é limite pra buscar novos sonhos e oportunidades. Aos sessenta e cinco anos, Rui Natã está experimentando uma sensação bem diferente.
Eu fiquei muito satisfeito, passou filme na minha cabeça desde os meus nove anos de idade que eu trabalho, esse filme passou todinho na minha cabeça nessa hora.
Ele é agente dos Correios há trinta e cinco anos, e agora é também calouro da Universidade de Brasília.
Rui Natã é dos aprovados do vestibular sessenta mais. O resultado saiu na última terçafeira. Na volta do trabalho, ele foi recebido com festa em casa.
Mandaram encostar no da vizinha e já vieram com farinha e eu não sabia pra que que era aquela farinha, eu não consumo nada de trigo, aí fiquei assustada, aí eu vi o cartaz escondido, calouro, aí eu falei, ah, deu certo então.
A escolha do curso, letras espanhol. O agente tem certo fascínio pelos idiomas do mundo, e vamos dizer uma certa facilidade em aprender.
Certa vez eu achei livro de francês no lixo, e eu me apaixonei pela língua francesa que eu comecei a estudar esse livro, mais tarde fui trabalhar de vigilante na embaixada da Itália, me apaixonei pela língua italiana e agora vou fazer espanhol.
Nunca faltou vontade de estudar, o que faltava era oportunidade.
O Rui Natã é o terceiro de nove irmãos, ele e a família chegaram a Brasília em mil novecentos e sessenta e dois, e foi em Ceilândia que eles construíram a vida, mas a educação nunca pôde ser prioridade.
Conciliar estudos e trabalho não é uma tarefa fácil, mas o Rui Natã faz isso desde pequeno. Pra ajudar a família, ele começou a trabalhar com nove anos vendendo doces com a mãe pelas ruas da Vila IAPII.
Nunca deixou de estudar, é que o gosto pelo estudo está no sangue, mas pra chegar onde ele chegou, ele manteve vivo hábito, o da leitura.
Sempre gostei de ler, quem lê abre os horizontes e está sempre aprendendo, além de você viajar com a leitura você também aprende muito.
Pai de quatro filhos o carteiro seguiu trabalhando Pra entrar na UnB aí foi a minha filha, a Natalie, ela sempre me incentivou. Aí ela fez a minha inscrição e e deu certo, sempre acreditou de mim, é incentivo de mão dupla, é o amor né?
Amor que move e desperta curiosidade em aprender. A caminhada está só começando, mas com planos pro futuro. Posso atuar nas duas, espanhol e francês, e se pintar oportunidade de lecionar também, eu encaro, não tenho medo de nada não.